Inscrições 4° Temporada

Certamente, esta é a primeira página de meu diário de bordo. E eu torço para que seja a primeira de poucas deste meu relato sobre minha luta pra sobreviver nesse mundo caótico, nesta terra de mutantes.

Antes deste barril de pólvora explodir, eu era como qualquer outro jovem. Minhas únicas preocupações na vida eram em estudar pra fingir ter a chance de ser alguém na vida, estar em casa antes das 22h, assistir minhas séries favoritas, jogar na internet, entre outras coisas. Mas, desde o surgimento do maldito INACAM e do búlgaro desgraçado, tudo mudou.

No começo, eram apenas boatos de pessoas semelhantes aos X-Men. Mas, quando se confirmaram… primeiro, a expectativa. Depois, chegaram os supervilões. E, então, vieram as guerras. Sentiamos que estávamos protegidos, afinal, eles nos defendiam dos supervilões. E os sensacionalistas, que questionavam sobre a existência de supervilões coincidir com o surgimento dos mutantes, e se eles realmente eram heróis, bom… ninguém acreditou que os mutantes poderiam ser uma ameaça. Afinal, eles eram de confiança, droga! Confiávamos neles para nos proteger. Homens e mulheres com o poder de exércitos, como era fantástico! Mas… tanta fama fez mal. Tanta admiração… tanto orgulho… para aquele búlgaro maldito querer imitar o Magneto… e colocar a raça mutante no poder. Foda-se os humanos, viva os mutantes. Malditos… desde o que aconteceu em São Paulo que eles resolveram foder tudo. Cinco anos da batalha de São Paulo… como o tempo passou.

Cinco anos atrás, eu cheguei a acreditar que eles podiam dar um jeito no mundo, ao vê-los ascender. Tanta corrupção, fome, miséria… eles dariam um jeito nisso. Afinal, eran nossos heróis. E eles deram um jeito… eliminando os humanos. Apenas se você for um mutante, você terá um lugar no mundo. Ainda cheguei a pensar que era temporário, por que, no fundo, eu aibda tinha uma esperança de que as coisas melhorariam para os humanos. Como eu estava errado…

Pouco a pouco, a opressão aos humanos cresceu. Revoltar-se era inútil, os mutantes tinham armas no corpo, e nós estávamos em desvantagem biológica. Nossos recursos foram ficando escassos, era impossível conseguir trabalho… e não me sentia seguro mesmo estando dentro de casa. Esqueci de falar… venho de uma família de militares, com meu pai, César Crescenzi, sendo um militar aposentado, e minha mãe, Alice Crescenzi, uma policial. Os nomes deles estavam nos registros. E os mutantes acabaram nos atacando. Era noite de quinta, estávamos jantando, e quatro mutantes chegaram atacando. Vi meus pais tombando graças a disparos oculares, e sendo amarrados pela elasticidade de um mutante. Minha reação foi jogar uma cadeira contra eles, apenas para vê-la sendo destruída por uma rajada de gelo. Ao menos, isso me deu tempo de correr pra pegar a arma de minha mãe e descarregá-la contra os desgraçados. Consegui fugir após balear dois deles, consegui pegar a caixa de munição do meu pai e saí, olhando pra trás. Escondido, pude vê-los levando meus pais, e os vi pela última vez. Não sei como eles estão, mas devem ter sido transformados em mutantes fantoches, escravos ou cadáveres.

Sem casa, sem família, sem dinheiro, apenas com a roupa do corpo e uma arma. Um humano procurado. Um humano que teve a ousadia de tentar matar um mutante. Crime maior que esse, só ser um humano mesmo. Essa era minha situação. Passei a viver nas ruas, furtando pra sobreviver, brigando com outros humanos — e até mutantes fracos. Mas eu percebia que, cada dia que passava, eu me sentia mais forte, aguentava mais as pancadas que recebia, apesar de ter sofrido um corte grave no rosto que quase me fez perder a visão do olho direito. Por meses… anos até… me senti evoluir. Era cada vez mais fácil realizar furtos e fugir, golpeava os outros humanos com facilidade e resistia mais a seus golpes. Acreditei ser coisas ligadas ao fato de eu estar me exercitando. Mas… não estava nem perto disso.

Certa noite, quatro meses atrás, acordei assustado e me levantei, coçando a perna. Foi quando ouvi o barulho de rasgos que olhei para minha mão, e vi... pedaços de minha calça presos nas garras. Sim, garras, como as de um gato. Percebi que meus pés também tinham garras semelhantes nos dedos, e me assustei, correndo para encontrar um local para me refletir. Corri mais do que eu sabia que poderia, e o escuro não era um obstáculo, pois eu estava enxergando perfeitamente nele. E, ao achar uma poça d'água, pude ver... minhas orelhas pontiagudas, as pontas afiadas de meus dentes, que tornaram-se presas, e meus olhos... como olhos de gato. Percebi na hora o que estava acontecendo... eu era um deles. Um mutante.

Depois dessa descoberta, passei a ficar mais recluso ainda, com medo de ser encontrado. Faminto, cedi ao instinto e passei a devorar ratos para sobreviver, e senti que a mutação... ainda não havia acabado. Noutra noite, retirei minhas roupas e senti meu corpo se transformando. Quando vi, estava transformado num gato. Mas... não estranhei. Eu era um metamorfo, claramente. Me concentrei, pensando em minha forma humana, e consegui voltar ao normal, voltando a vestir as roupas. Mas, cada vez mais, aquilo me incomodava, e o resultado foram rasgos na minha camiseta e na minha calça. Os instintos cresciam com força, cada vez mais eu me transformava, até que consegui encontrar um grupo que me acolhesse... um grupo vivendo no subterrâneo de São Paulo. Nessas andanças, ouvi sobre a revolta na Europa. A questão, no entanto, é... como ir para a Europa, fugindo das defesas da União Mutante? E o pior... preciso encontrar meus pais. E aprender a lidar com o fato de que, apesar de eu ser um mutante também... não sou parte da nata. Como me apelidaram... sou apenas o Felino, um bandido procurado, e que apenas quer liberdade.